PROJETO SUSTENTÁVEL DE MORADIA ENSINA OFICIO A MORADORES

Mais de 100 famílias de dois assentamentos rurais do estado de São Paulo foram beneficiadas por um projeto que viabilizou melhorias como rede de água e esgoto e instalação elétrica em casas que tinham pouca ou nenhuma estrutura.

Por intermédio de um estudo de doutorado desenvolvido na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP, o arquiteto Ivan Manoel Rezende Do Valle possibilitou aos moradores dos assentamentos Pirituba II, em Itapeva, e Sepé Tiaraju, em Serra Azul, a construção de novas moradias construídas em sistema de mutirão. “Cada um foi responsável por uma parte da construção”, conta Do Valle, que foi o responsável pelos projetos de coberturas das casas, usando madeira de florestas plantadas (eucaliptus e pinus), explorando também o conceito de sustentabilidade.

A tese de Do Valle, intitulada A pré-fabricação de dois sistemas de cobertura com madeira de florestas plantadas. Estudos de casos: os assentamentos rurais Pirituba II e Sepé Tiaraju, está vinculada a dois projetos de pesquisa desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa em Habitação e Sustentabilidade (HABIS), do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) da EESC, e pela Universidade Federal de São Carlos (UFscar). Na USP, a coordenação é do professor Akemi Ino.

O professor Ioshiaqui Shimbo é o responsável pela coordenação na UFscar. Os pesquisadores do projeto ficaram um ano e meio em cada assentamento, realizando viagens semanais desde a base em São Carlos.

Em Pirituba II, foram atendidas 49 famílias entre 2005 e 2006, e em Sepé Tiaraju 77, entre 2007 e 2008. O arquiteto descreve como o processo era simples: em cada comunidade se montava uma espécie de uma marcenaria para a pré-fabricação dos componentes das moradias.

INCUBAÇÃO:

O assentamento de Pirituba II teve um diferencial em relação ao de Sepé Tiaraju: a incubação das marcenarias. No assentamento de Itapeva, os moradores receberam treinamento para o ofício de marcenaria e iniciaram a produção de esquadrias de portas e janelas, além dos componentes das coberturas. Em forma de mutirão, eles adquiriram este conhecimento e passaram a trabalhar com marcenaria.

Hoje há um número ainda maior de moradores com este conhecimento, repassado pelos pioneiros do projeto. Fazem parte destes pioneiros um grupo de mulheres já com mais de 40 anos, que, sem deixar de realizar o trabalho de casa, iam se juntar à marcenaria, para aprender ofícios que podiam ajudar em sua renda.

Em Sepé Tiaraju não houve incubação e, por consequência, não existiu a geração de trabalho e renda, pois a própria infraestrutura do assentamento era mais precária. Pirituba II já possuia galpões vazios de antigas fazendas, e o Sepé teve de improvisar um. Assim, a marcenaria limitou-se à confeccção dos componentes da cobertura (os painéis pré-fabricados) para as 77 casas.

Do Valle ressalta a importância da incubação: “por gerar trabalho e renda para os moradores, o processo acabou sendo um incentivo para eles ficarem por ali e não migrarem para outras áreas rurais ou urbanas”.

FORRO:

Segundo o pesquisador, a verba disponível era de aproximadamente R$10mil por casa e foi concentrada na compra de materiais, não havendo gasto com mão de obra. Com valores reajustados em dezembro de 2008, as coberturas de Pirituba II custaram R$3.047,00 cada, e a do Sepé Tiaraju R$3.005,00.

O arquiteto considera que a cobertura proposta para as casas do assentamento de Sepé Tiaraju tem qualidade superior devido a presença do forro. Enquanto em Pirituba II ele foi colocado apenas em algumas casas com recurso particular e individual, no Sepé o forro fez parte do processo de pré-fabricação e esteve presente em todas as coberturas. Também lá a produção foi mais rápida: 4 dias, contra 7 de Pirituba II.

O pesquisador concluiu que o processo de pré-fabricação de sistemas de cobertura com madeiras plantadas é viável em todos os critérios da sustentabilidade: ambiental, econômico, social, cultural e político, mesmo nas condições precárias do assentamento rural, e que as pessoas envolvidas na produção se organizaram, se capacitaram e produziram uma cobertura mais barata e de melhor qualidade, diferente da convencional.

Do Valle ainda acrescenta que foi importante introduzir o processo participativo para a pré-fabricação, associado à industria e a regiões urbanas, nos assentamentos rurais, e destaca a relevância da experiência, dada a importância que a moradia tem para aquelas famílias, que há tempos lutam para ter uma moradia digna.


Fonte -Fonte: Agência USP – Mariana Soares

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