PREÇOS SOBEM E ACENDEM LUZ AMARELA NO MERCADO

A aceleração dos preços do mercado imobiliário brasileiro acendeu uma luz amarela. O valor dos imóveis, que tem subido 25% ao ano, e a expansão do crédito provocaram um alerta do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre uma eventual instabilidade financeira no país. Algum risco existe, de acordo com especialistas, mas não chegaria a representar uma ameaça comparável à crise do subprime nos Estados Unidos, em 2008, com repercussão na Europa.

O preço dos imóveis, aliado à renda insuficiente ou o emprego informal, também impede o sonho da casa própria em algumas capitais brasileiras. De acordo com o estudo “Um espaço para o desenvolvimento: os mercados habitacionais na América Latina e Caribe”, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), 62% dos moradores de São Paulo não têm como comprar imóvel na cidade.

No Rio de Janeiro, Recife e Belém o problema afeta 56% das famílias. Em Fortaleza são 55%. Em Curitiba, Brasília e Porto Alegre, 52% não têm como comprar imóvel. Em Salvador são 49%. No Rio, o trabalho informal, que não permite a comprovação de renda exigida pelos agentes financeiros, atrapalha 34% das famílias. Em São Paulo, o preço é o que impede o projeto de 39% dos paulistanos.

A pesquisa do BID, divulgada este mês, estudou o déficit habitacional em 41 cidades de 18 países da América Latina e Caribe. Outro problema é a falta de infraestrutura. Dos 3 milhões de domicílios que se formam anualmente nas cidades latino-americanas, 2 milhões são forçados a se instalar em habitações informais, como as favelas.

O estudo do BID indica que com o uso de recursos governamentais seria necessário incrementar sete vezes os investimentos públicos em programas habitacionais, com gastos de US$ 310 bilhões, equivalente a 7,8% do Produto Interno Bruto regional. “O déficit é tal que, mesmo que os governos queiram resolver o problema apenas com recursos públicos, seria quase impossível. O investimento de 7,8% do PIB da região daria apenas para cobrir o estoque, que cresce a cada ano”, diz Cesar Bouillon, do Departamento de Pesquisa do BID.

Ele acredita que o risco de uma bolha imobiliária no Brasil, como alerta o FMI, “é pequeno na comparação com Estados Unidos e União Europeia porque o país tem um dos menores mercados hipotecários, até mesmo para os padrões da América Latina. Representa 10% do PIB, contra 20% do Panamá e do Chile”, diz.

Para Nabil Bonduki, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), “a entrada das construtoras na bolsa de valores pode representar um risco, mas esse é um setor que trabalha com altos níveis de segurança ao não financiar 100% do imóvel. A ameaça de bolha só existe só houver crescimento da inadimplência e queda nas margens de segurança”. O especialista em mercado imobiliário Emílio Haddad, também da FAU-USP, diz que “a valorização imobiliária se justifica, entre outros fatores, porque os preços dos imóveis estavam defasados em relação a outros ativos”.

Em São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Recife o valor dos imóveis disparou em três anos. Apartamentos avaliados em mais de R$ 1 milhão já não são raridade nos classificados de jornais ou nos anúncios das imobiliárias.

Mas não é só nas capitais. Em Santos, no litoral paulista, base da Petrobras para as operações de produção de petróleo na camada de pré-sal, o metro quadrado passou de R$ 3 mil para R$ 5 mil em cinco anos. No Rio de Janeiro, aumentou 155% desde 2009. Mais recentemente ganhou pelo menos mais um componente inflacionário: a criação das unidades de polícia pacificadora (UPPs) instaladas pela Secretaria de Segurança Pública do Estado em algumas favelas e morros valorizou em 100% o preço do imóvel destinado às classes de renda mais baixa, de acordo com o Sindicato da Habitação do Rio (Secovi/RJ).

A pesquisa do BID indica soluções para dar oportunidade à parcela da população que sofre com a alta dos preços, como o envolvimento do setor privado, o fortalecimento de programas de infraestrutura e o apoio à construção de moradias populares. Um caso de sucesso apontado pelo trabalho é o programa Mecroproyectos, que dá incentivo a urbanizadores e construtores para grandes projetos habitacionais em lugares de baixa renda na Colômbia.

O Ministério das Cidades informou que não teve acesso a integra do estudo do BID, mas destacou que uma das estratégias de enfrentamento ao déficit habitacional é o Programa Minha Casa, Minha Vida, que tem a meta de 3 três milhões de unidades habitacionais no período 2009-2014 com investimentos de R$ 180 bilhões, sendo 60% destinados a famílias com renda mensal até R$ 1,6 mil, que terão acesso à casa própria comprometendo 10% de sua renda familiar durante 10 anos.


Fonte -Fonte: Valor Econômico / Cesar Vasconcellos

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