JOGANDO VERDE: LABORATÓRIO DE IDEIA SUSTENTÁVEL

A subida é longa: 950 metros. Mas quando se vê a bela vista do alto das montanhas do distrito de Pedro do Rio, em Petrópolis, dá para entender porque o local foi escolhido para abrigar um condomínio verde que funcionaria também como uma espécie de laboratório para testar materiais e práticas sustentáveis.

Em 2010, quando foi lançado pelo arquiteto Sérgio Caldas, o Movimento Terras era uma ideia, no mínimo, ousada: transformar parte de uma fazenda em um empreendimento sustentável, com o selo Breeam, e oito unidades projetadas por quatro grandes escritórios de arquitetura. Mas transformá-lo em algo real não foi fácil. Lucro garante Caldas, não houve. As casas foram vendidas pelo preço de custo: R$ 1 milhão. E duas delas não sairão do papel.
– A gente queria aprender. Hoje, boa parte do que está sendo usado nas casas, já incorporei em meus projetos comerciais – afirma Caldas.

O primeiro desafio foi a falta de infraestrutura, que precisou ser feita pela Concal, construtora responsável pela obra. Encontrar os fornecedores de materiais sustentáveis foi o segundo passo. Há três anos, eles ainda eram poucos, em especial, naquela região. Foi preciso convencer um deles a se adaptar e certificar sua empresa. Outro foi descartado, pois traria o material da Argentina.

Apesar das dificuldades, há três meses, a primeira dessas unidades, projetada pelo próprio Caldas, ficou pronta, mostrando que a ousadia deu resultado. O proprietário, que prefere não se identificar, começou a frequentá-la antes mesmo da chegada do mobiliário e vem batendo ponto ao menos três fins de semana por mês. Entusiasta do projeto acabou levando dois amigos a comprar unidades.

Mesmo projetadas por arquitetos diferentes, as seis casas usarão os mesmos materiais: perfis de aço, esquadrias de madeira certificada, cumaru e cedro, e nas paredes, tijolos de solo-cimento. Considerados mais sustentáveis por serem prensados e não irem ao forno, esses tijolos são encaixados e permitindo a passagem de fiação e encanamento, o que evita o quebra-quebra e reduz os resíduos. E ainda dispensam o emboço e a pintura. Tanto que foram deixados aparentes na primeira casa.

Outro achado de Caldas foi o vidro low-e, que hoje já é mais fácil de ser encontrado e está em vários de seus empreendimentos. Na primeira casa do projeto Terras, ele está nas esquadrias de toda a área de estar, além do corredor dos quartos, onde há um pequeno jardim. Com película que filtra os raios solares, mas mantém a transparência, o vidro reduz o calor interno sem inibir a entrada de luz. E, assim, diminui o consumo de eletricidade. A energia solar é utilizada ainda para o aquecimento dos chuveiros e da piscina. Os tubos coletores ficam no telhado da área social.

Além disso, os pisos usam porcelanato com 25% de material reciclado; nos banheiros, a pastilha usada é feita com resto de lâmpadas fluorescentes; 90% da iluminação utilizada é em led e a água da chuva é captada, tratada e reutilizada em banheiros e na irrigação do jardim.

O paisagismo, aliás, é um caso à parte, já que 25% da área de todas as casas deverão ser verdes – uma exigência que consta em contrato. O condomínio tem até um horto com 13 mil mudas à disposição dos proprietários.

A segunda casa, projetada por Miguel Pinto Guimarães, deve ficar pronta em junho. A terceira, também de Caldas, em outubro. O condomínio ainda terá casas dos escritórios Bernardes Arquitetura e Levisky Arquitetos Associados, ainda sem data de conclusão.


Fonte -Fonte: O Globo / Karine Tavares

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