EXPLOSÃO VERTICAL TAMBÉM ATINGE PERIFERIA E CIDADES DO INTERIOR

A verticalização da moradia já não é restrita às grandes cidades. Com a valorização dos terrenos nas capitais, surgem cada vez mais prédios nos municípios do entorno. Levantamento da Lopes Consultoria de Imóveis mostra que, em 2012, na Região Metropolitana de São Paulo, surgiram 336 prédios em municípios vizinhos à capital, que teve 347 lançamentos. Em Betim, colado a Belo Horizonte, foram erguidos 141 prédios. Lauro de Freitas e Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, receberam 57 torres ano passado. Na Região Metropolitana do Rio, os edifícios também se espalham pelo entorno: foram 32 novos prédios em Niterói e 58 em Macaé em 2012.

Nos municípios vizinhos às capitais das regiões Norte e Nordeste surgem projetos gigantes, alguns com mais de oito prédios. O problema é que as capitais concentram negócios e empregos, e as novas áreas se tornam bairros-dormitórios. Como a falta de transporte coletivo é generalizada, formam-se enormes congestionamentos diários para chegar às capitais e sair delas.

Mais prédios novos em Icaraí que na Barra:

Nem a Barra da Tijuca viu crescer tantos prédios quanto Niterói em 2012: foram 17, só no eixo Icaraí, e Jardim Icaraí. Um a mais do que o registrado no bairro carioca, que mantém a tradição de receber investimentos do setor. Essa região de Niterói vive problemas que se agravam com novos prédios.

Fazem parte do cotidiano dos moradores, engarrafamentos constantes e enchentes cada vez mais frequentes, além de espaços públicos desordenados em determinados horários e a valorização dos preços. Em janeiro deste ano, o metro quadrado em Icaraí chegou a R$ 11 mil. Niterói alcançou o quarto lugar na lista das metragens mais caras do país: R$ 6.542 em média, só atrás de Rio, Brasília e São Paulo.

A valorização é parte de uma matemática simples, diz Jean Pierre Biot, presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi) de Niterói. Nos últimos dez anos, a renda média do niteroiense cresceu 60%; o PIB, 35%; e a população, só 6%.

— Niterói atrai moradores de cidades vizinhas. Como a renda cresceu todo mundo quis morar em Icaraí. Não é o mercado que escolhe o local, são as pessoas que criam o mercado naquele lugar. Agora, o município, como um todo, não cresceu muito. Charitas, sim, mas Centro, Região Oceânica e Pendotiba são locais que não registraram quase aumento algum — diz ele.

Em dez anos, o número de veículos nas ruas cresceu 200%. O resultado é uma grande dificuldade para transitar pela cidade nos horários de pico. Numa tentativa de solução, a Avenida Roberto Silveira, principal via de Icaraí, teve seu fluxo redefinido para evitar engarrafamentos no sentido Ponte Rio-Niterói.

Nas vias internas, o tráfego divide espaço com carros estacionados. Ainda este ano, o serviço de estacionamento Niterói Rotativo será expandido na região.

— De uma forma geral, o que ocorreu nas grandes cidades foi que elas não investiram em transportes públicos. O que cresceu no sistema viário de Niterói nos últimos 20 anos, além do acesso à Região Oceânica? — questiona o professor Gilberto Gonçalves, do Departamento de Engenharia Civil da UFF. — Não existiu planejamento. Fizeram o corredor na Alameda São Boaventura e mais nada. A Região Oceânica poderia ter um BRT.

Para frear a verticalização, a 4ª Vara Cível proibiu, em março de 2010, a concessão de licenças de construção em Jardim Icaraí. A determinação vale até que o Plano Urbanístico Regional (PUR) da região seja revisto o que deveria ter acontecido em 2007. Segundo o prefeito Rodrigo Neves, a prefeitura estuda a ideia de revisar os PURs, mas ainda não há prazo definido.

Em Nova Iguaçu, 2.228 unidades em dois anos:

Em apenas três anos, quatro prédios residenciais e um apart-hotel foram construídos em Nova Iguaçu. Outro edifício comercial está pronto para funcionar. E um empreendimento de 21 andares, com piscina, academia e outras opções de lazer, sairá do papel nos próximos meses — tudo na Rua Doutor Mário Guimarães, no Centro da cidade, na Baixada Fluminense. Essa via é um dos exemplos da verticalização na Região Metropolitana do Rio de Janeiro.

Entre 2010 e 2012, Nova Iguaçu ganhou 2.228 novas unidades residenciais e comerciais. Segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário do Rio de Janeiro (Ademi), a média é de dois lançamentos por dia. Sem considerar a capital, o município perde apenas para Itaguaí, que registrou 2.830 novas unidades.

Sete cidades da Baixada (Nova Iguaçu, Itaguaí, Belford Roxo, Duque de Caxias, Magé, Mesquita e Nilópolis) ganharam 9.042 empreendimentos.

O rápido crescimento imobiliário tem causado transtornos frequentes aos moradores. Virou rotina a falta de água. Reflexos no trânsito (engarrafamentos, principalmente na Rodovia Presidente Dutra) e problemas na rede de drenagem de esgoto e de escoamento da chuva, que causam alagamentos, estão na lista de reclamações da população.

— O empresário que mora na Barra da Tijuca e tem um comércio na Baixada não quer enfrentar o trânsito todos os dias. Com isso, prefere passar a semana na região. Assim, o mercado imobiliário cresce. Além disso, há a questão bairrista: os próprios moradores da Baixada procuram novos prédios, aquecendo o setor — diz o presidente da Ademi, João Paulo Rio Tinto de Matos.

Segundo ele, no Rio, é de responsabilidade das construtoras oferecer toda a infraestrutura, como instalação de redes de água e esgoto, asfalto, iluminação e calçamento.

— O poder público diz não ter recursos — ressalta Matos.
A valorização dos imóveis é outro ponto importante. Na Rua Doutor Mário Guimarães, em Nova Iguaçu, uma cobertura de 213 metros quadrados, na planta, pode chegar a R$ 1,1 milhão. Já um andar inteiro de 1.100 metros quadrados, onde cabem 31 salas comerciais, está à venda por R$ 6,5 milhões.

O secretário municipal de Urbanismo, Habitação e Meio Ambiente de Nova Iguaçu, Giovanni Guidone, explica que a prefeitura está analisando os problemas causados pelas recentes construções no Centro. Diz que haverá mais rigor na cobrança de estudos de impacto de vizinhança por parte das construtoras.

A Cedae informou que vai inaugurar obras este ano para melhorar o abastecimento. Prevê duplicar uma adutora e implantar o sistema operacional do Reservatório da Posse.

Macaé – só em março, mil pedidos de novas construções:
Com a expansão do mercado imobiliário em Macaé, a prefeitura enviou à Câmara Municipal projeto de lei de mudança de gabarito, proibindo a construção de prédios com mais de três andares na orla. Uma meta é diminuir o impacto ambiental. Pela legislação atual, as construtoras podem erguer até sete pavimentos.

Só em março, a prefeitura recebeu mil pedidos para aprovar projetos de novos empreendimentos, incluindo edifícios e condomínios residenciais. No chamado Eixo Sul, onde ficam bairros como Glória e Imboassica, há uma acentuada verticalização, com empreendimentos voltados para as classes A e B. No Norte, como em São José do Barreto e Lagomar, os prédios destinam-se à classe C. Na região central, predominam condomínios fechados.

Macaé tem 220 mil habitantes, 40 mil sem acesso a água potável, diz a prefeitura. A cidade é a principal base de operações da Petrobras no país. Com a nova legislação dos royalties, Macaé pode ficar sem 30% do R$ 1,8 bilhão previstos no Orçamento este ano.

— Nosso crescimento populacional é de 5% ao ano. O desafio é fazer um novo planejamento urbano. O tráfego de carretas, ônibus e carros deixa o trânsito um caos — diz o prefeito Aluízio dos Santos Júnior.


Fonte -Fonte: O Globo / Cleide Carvalho, Gabriel Cariello e Cassio Bruno

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