Apagão no Amapá: causas poderiam ter sido evitadas

O monitoramento online em tempo real pode reduzir até 60% das falhas intempestivas de transformadores

 

Apagão no Amapá: causas poderiam ter sido evitadas
Fonte: arandanet.com.br / Foto: arandanet.com.br

A interrupção do suprimento de energia elétrica no Estado do Amapá causou enormes prejuízos aos concessionários e à população. Infelizmente, a tendência é de que o fato se repita em outros pontos do território brasileiro em função da fragilidade das buchas de alta tensão, cujos projeto e fabricação não têm apresentado avanços ou melhorias significativas em seu estado da arte ao longo dos anos. A evolução mais importante parece ter sido a substituição da porcelana por um material polimérico, que, no caso de explosão, não produz estilhaços.

Em 1983, o Cigré publicou um estudo sobre as principais causas de falhas em transformadores de potência. Os dados englobaram 1000 defeitos, envolvendo mais de 47000 unidades, obtidas a partir de registros oriundos de 13 países. Os resultados da pesquisa mostram um número significativo de falhas relacionadas a buchas, podendo atingir até 30% do total de defeitos dos transformadores. Isso justifica o monitoramento do estado de conservação desses componentes durante a vida útil do equipamento.

Por sua vez, um levantamento feito pelo ONS/CMSE sobre os ativos críticos para o SIN – Sistema Interligado Nacional nos anos 2012 e 2013 mostrou um total de 14 ocorrências de perturbações provocadas por explosões dos equipamentos, representando 12,4% do total. O envelhecimento das buchas é um dos fatores da deterioração de seu isolamento. Para evitar ou minimizar os defeitos que podem ocorrer nas buchas ao longo do tempo de utilização, existem diversas alternativas. A mais frequente são os ensaios com o equipamento desligado. Entretanto, tais ensaios, se realizados periodicamente, diminuem a disponibilidade do transformador, custam caro e não conseguem detectar falhas que se desenvolvem rapidamente. Na maioria das concessionárias, os testes são realizados com periodicidade superior a dois anos, e quando as buchas apresentam alguma deterioração, o intervalo entre os testes é reduzido. No entanto, esses períodos são suficientes para desenvolver vários tipos de falta.

A alternativa é fazer monitoramento online em tempo real do fator de potência e da capacitância das buchas. Até 60% das falhas intempestivas podem ser evitadas com monitoramento. O que causa espanto é que esse tipo de problema foi identificado há muito tempo, mas pouco tem sido feito e a redução dessas falhas não está acompanhando as exigências e necessidades crescentes dos consumidores de energia elétrica.

O IEEE realizou um seminário sobre buchas em 2005 com a participação de fabricantes e concessionárias. Durante o evento, diversas boas sugestões foram apresentadas. Nas edições do SNPTEE – Seminário Nacional de Transmissão de Energia Elétrica, diversos trabalhos foram aprovados sobre o assunto. Já a Abrate – Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica produziu, por meio de um grupo de estudos, um relatório que serve de base para as suas associadas quando se trata do estado da arte do monitoramento e diagnóstico. A Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica, através da Resolução nº 270, exige uma disponibilidade próxima de 100% para o sistema de transmissão. Por sua vez, a gestão de ativos preconizada pela ABNT NBR 55000 cuida muito bem do aspecto econômico financeiro envolvido na manutenção e substituição do bem em operação.

Temos, portanto, diversos instrumentos para tratar do assunto, de forma que o cliente final, usuário da energia elétrica, possa ter suas necessidades atendidas. Não existe razão para repetição do apagão do Amapá. Vamos cuidar das buchas para as bruxas não ficarem soltas.

* José Ailton Baptista da Silva é engenheiro eletricista, formado pela Unifei – Universidade Federal de Itajubá, turma de 1969.

 

 

Fonte: arandanet.com.br
Foto: arandanet.com.br

 

 

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