GOVERNO BUSCA NOVOS INVESTIMENTOS PARA REVITALIZAÇÃO DO PÓS-SAL E TRAÇA METAS PARA RENOVAÇÃO DE BACIAS MADURAS

O futuro da indústria brasileira de óleo e gás não depende apenas do pré-sal, e os campos produtivos em bacias maduras deverão estar sob foco de estímulos do governo para os próximos anos. Em palestra durante a UK Energy, a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Magda Chambriard afirmou que 8,8 mil poços vem produzindo menos do que o esperado nas áreas do pós-sal, o que revela hoje a necessidade do aporte em tecnologias e na renovação dos campos, atualmente responsáveis por uma produção de cerca de 1,5 milhão de barris diários no país. No encontro junto a representantes da indústria do Reino Unido, a executiva enfatizou o potencial das empresas britânicas de investir no aprimoramento dessas áreas, com foco na movimentação de novas demandas na cadeia nacional e a expansão da produção de petróleo no país. “O que precisamos vai bem além do pré-sal”, acentuou a diretora.

A revitalização da produtividade em áreas maduras já vem se concretizando em ações do governo. Também presente no evento, o secretário de Petróleo e Gás do Ministério de Minas e Energia (MME) Marco Antonio Almeida afirmou que, no caso de campos com produção parada em período superior a seis meses, as companhias responsáveis serão notificadas para retomar as operações ou deverão arcar com medidas que podem resultar na cessão de direitos para exploração das reservas. A medida, segundo ele, cria um compromisso para o estímulo das áreas e deve acelerar o desenvolvimento de campos produtivos.

Além disso, a renovação de concessões na Bacia de Campos integra hoje a agenda central do Ministério, segundo Almeida, o que poderá resultar em novas licitações com validade de até 27 anos e na revitalização de campos do que hoje constitui o principal polo produtivo do país. O executivo também ressaltou a importância da prorrogação do Repetro, que deverá contar com nova definição regulamentar nos próximos dias, podendo incluir outros bens na lista de beneficiados pelo regime alfandegário.

De acordo com o secretário, já nas próximas semanas deverão ser formados os comitês para a preparação do Programa de Estímulo à Competitividade da Cadeia Produtiva, ao Desenvolvimento e ao Aprimoramento de Fornecedores do Setor de Petróleo e Gás Natural (Pedefor). Segundo o planejamento do governo, o projeto deve conduzir a investimentos para além de bens e serviços na indústria nacional, movimentando contratações e aportes no mercado brasileiro.

A produção de gás natural também esteve no centro das atenções de representantes do governo. Segundo Chambriard, há muito espaço para investimento estrangeiro na exploração do insumo em áreas onshore e de águas rasas, que ainda guardam grandes reservas úteis e exploradas hoje abaixo de seu potencial. O secretário Almeida, por sua vez, deu foco aos desafios logísticos na exploração do pré-sal, entre os quais está a viabilidade econômica da produção de gás natural. De acordo com o executivo, tanto o governo quanto as empresas exploradoras devem buscar maneiras de tornar a extração sustentável sem a necessidade de reinjeção nos campos.

O evento também contou com a participação do presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), Jorge Camargo, que colocou em questão o aprimoramento das regras de conteúdo local para uma maior competitividade na indústria. Segundo o executivo, o regulamento não pode ser “obstáculo para investimentos” no mercado brasileiro, o que foi rebatido em seguida pela diretora da ANP. A maior parte dos aportes feitos hoje no setor não contam com aplicação do conteúdo local, que vem se concretizando com índices elevados apenas em licitações recentes do regime de partilha ou da cessão onerosa. De acordo com Chambriard, a produção do pós-sal ainda representa a parcela majoritária de produção no país, e demanda hoje novos aportes tecnológicos para a reabilitação de plataformas e logística em geral.

Em entrevista ao Petronotícias, o embaixador britânico Alex Ellis reforçou o potencial das empresas britânicas de integrar novos investimentos em tecnologia para campos maduros no mercado brasileiro. “A questão dos campos maduros já é uma realidade com que as empresas britânicas lidam há muitos anos, por conta da exploração no Mar do Norte. As tecnologias para explorações nessas áreas são dominadas e serão úteis para que o Brasil continue com altas produções em ativos mais antigos.” Segundo o executivo, o país vive hoje um contexto de ansiedade, mas a presença da indústria britânica tem foco em uma parceria a longo prazo e continua se expressando em novos investimentos. “Várias empresas que estão interessadas em ampliar suas atividades no Brasil já vieram falar comigo hoje no evento”, disse o embaixador.

Segundo Ellis, o Reino Unido tem “um grande poder de investimento”. “As maiores empresas do mundo de óleo e gás são britânicas e outras, menores, podem trazer tecnologia e inovação para o mercado. Na área subsea, por exemplo, a grande maioria dos veículos voltados para essas atividades são produzidos por empresas britânicas. A vocação para a pesquisa também é um ponto alto, que pode muito bem ser explorada no Brasil”, afirmou o executivo, que também defendeu os pontos apresentados no evento pela diretora da ANP. “É bom que a Magda nos lembre que a maioria da produção brasileira de petróleo não está concentrada no pré-sal. É um ativo muito importante para o país, mas as possibilidades com a renovação dos contratos da Rodada Zero também chamam a atenção. É uma área que não conta com índices de conteúdo local para atividades e onde serão feitos investimentos em um futuro próximo”.

A mesa de debate também contou com a participação do presidente da Shell no Brasil, André Araújo, que reiterou as intenções da companhia de ampliar seus investimentos no mercado brasileiro. O executivo abordou a importância da inovação tecnológica para o aprimoramento das operações no pré-sal, onde a petroleira é atuante por meio do consórcio de Libra. Entre os principais projetos estudados hoje pela empresa, junto a pesquisadores do Cenpes, está o gerenciamento de emissões na produção, além da injeção de água em reservas e a separação de gás e óleo, que hoje constituem desafios para a eficiência econômica da região.

Fonte: PetroNotícias

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